segunda-feira, 16 de março de 2009

2 - A tradição de integrantes da família Pasculli executantes na profissão de barbeiro.

A história da família Pasculli como executantes na profissão de barbeiro começou na Itália com o barbeiro Genaro, chamado de Maestro Genaro, pai de Giacomo. Giacomo Pasculli, barbeiro (1871-1947), e sua esposa Domingas Bucinni migram da Itália para o Brasil em 1895, aportaram em Santos e seguiram para Santa Rita do Passa Quatro onde ele trabalhou de lavrador por alguns meses, depois mudaram para Niterói onde trabalhou de barbeiro e algum tempo depois foi para São Paulo. Uma das histórias contadas de pai para filho, “Tuli” comenta:
__Quando meu avô Giacomo foi para Niterói ele esteve numa barbearia para pedir trabalho e o dono do salão perguntou a ele se ele era oficial, ele respondeu que oficciale é do exército ele era barbeiro, ali ele conseguiu uma cadeira para trabalhar. Teve um dia que chegou um freguês na barbearia com uma enorme barba e ele queria cortar a barba estilo inglesa, bem volumosa no rosto e mais curta no queixo, os barbeiros indicaram o Giacomo, como ele era o barbeiro novato, o freguês sentou na cadeira e ele começou a aparar a barba daquele senhor, era só tesourada e pente que corria na barba comprida que estava até o peito, os pêlos caíam para todo lado, os barbeiros ficaram preocupados dele estar cortando muito porque era uma barba com uns seis meses sem cortar, terminado o serviço o freguês pagou e foi embora sem tecer comentário, no outro dia aquele senhor voltou lá para agradecer dizendo, é essa barba que faz tempo que eu queria e deu uma gorjeta ao Giacomo. Meu pai dizia também que nessa época quando ele morou em Niterói não tinha rede esgoto, assim em algumas ruas da cidade todos os dias de manhã as pessoas deixavam nas portas de suas casas pequenos barris contendo as fezes do dia anterior, para que o coletor passasse e pegasse para levar à um local apropriado como faz a coleta de lixo, esses barris eram transportados de carroça. Além das histórias contadas de pai para filho, também foram as formas de aprendizado da profissão que passou de pai para filho junto com o ambiente e a freguesia.
Giacomo e Domingas tiveram quatro filhos: Francisco nascido na Itália, Januário nascido em Niterói, Antonieta nascida em Sã Paulo e Joana nascida em Poços de Caldas. Dos quatro filhos, Francisco (1895-1990), seguiu a profissão de barbeiro, casou com Itália Incrocci que tiveram dez filhos: Delma, Yone, Francisco Filho, Giacomo Neto, Januário Sobrinho, Plínio, Emerson, Aldo, Domingas e Ernani todos nascidos em Poços.
Numa entrevista realizada com a repórter Celeste Calil para o jornal Diário de Poços de Caldas em maio de 1987, Francisco narrou:
__“Meu pai chegou em Poços em 1900 e formou a barbearia na Rua Junqueiras nº 05, hoje nº 567, em 1915 ele comprou na Casa Fachada da Rua Direita em São Paulo, com o valor de quinhentos e cinqüenta mil réis cada uma, cinco cadeiras giratórias de barbeiro de dois jogos importadas dos E.U.A., diz-se que a cadeira é de dois jogos, porque um jogo é quando ela está na posição de sentado, o outro jogo com o mecanismo de uma alavanca ela é reclinada em posição de semileito, ele ainda acrescentou: Comecei a trabalhar com meu pai em 1913 e segui a profissão até 1972, nessa barbearia foram nossos fregueses: a família inteira do Coronel Agostinho Junqueira, a família do Dr. Mário Mourão, a família Vivas, a família Monteiro de Bom Sucesso, dona Sinhá casada com o Dr. Pedro Sanches, dona “Cocota” que viveu até os cem anos casada com o Major José Afonso Barros Cobra. O Dr. Pedro Sanches que residiu do lado da Igreja Santo Antonio numa casa que o portão tem uma placa com o seu nome hoje é o atual Hotel Santos, Padre Henry Mothon veio para o Brasil e foi trazido para esta cidade pelo pai do Dr, David Ottoni em 1906, na esquina do antigo Imperial hotel atual banco Itaú os políticos se reuniam para fazer discursos, o local foi apelidado pelo povo de “Praça das Promessas”, o prefeito Juscelino Barbosa fez o traçado da cidade e plantou eucaliptos na av. João Pinheiro em 1908 que foram retiradas em 1958 com o reflorestamento das atuais, o senador Francisco Escobar prefeito de poços em 1909 construiu o Poço Zootécnico em 1921 que passou a ser o Country Club e atual parque municipal, Carlos Pinheiro Chagas, João Moreira Salles e o Dr. Aristides Melo diretor das Thermas foram à Europa visitar as estações balneárias e organizaram as Thermas de Poços, Santos Dumont vinha muito para Poços”.
No dia 24 de junho de 1984 foi realizada uma cerimônia no Palace Hotel em homenagem aos primeiros italianos que chegaram em Poços, com a presença do cônsul italiano de B.H. Ricardo Manaro, na ocasião foram plantadas duas árvores na praça Afonso Junqueira em Homenagem ao Brasil e a Itália, da qual, participei representando um dos italianos mais velho ainda vivo, essa festa foi organizada por José Carlos Garutti secretário do S.O.S. “[1]
Dos dez filhos de Francisco quatro seguiram o ofício: Delma nascida em 1926 que trabalhou como manicure, pedicure e cabeleireira no Instituto de Beleza Pedro Sanches e posteriormente no Instituto do Palace Hotel, aposentou aos oitenta anos de idade no Instituto de Beleza Déa, na Rua Pernambuco, nº 664;
Januário Sobrinho, “Catuca” nascido em 1933 trabalhou com seu pai e mudou para São Paulo em 1956, onde trabalhou em alguns salões como empregado. A partir de 1962 formou seu o seu próprio salão e teve quatro salões com o nome de Phídias. Foi presidente do Sindicato Patronal de São Paulo, de (1972 a 1976); diretor da Federação do Comércio do Estado de S.P. (1973 a 1976); diretor do SEMAE, (1973 a 1976). Foi um dos precursores dos aditamentos da profissão de barbeiro para cabeleireiro na década de 1970. Em 1980 participou da fundação ASBRACA, Associação Brasileira de Cabeleireiros; (1976 a 1982) atuou como professor do SENAC, em aperfeiçoamento de cortes e especialização em fogo e a navalha. Foi influente em “abrir as portas” para maior comunicação entre barbeiros e cabeleireiros da América do Sul. Atualmente está em São Paulo já aposentado, entretanto ainda atende alguns clientes.
Aldo nascido em 1939 começou a trabalhar em 1954 no salão com seu pai, em 1960 foi para São Paulo trabalhar por dois anos, regressou à Poços e trabalhou no salão da família na Rua Junqueiras e lá permaneceu até o fechamento definitivo do salão entre 1988/89. Atualmente trabalha no salão Paris na Rua Barão do Campo Místico nº 8 - 3, o antigo endereço do salão Paris era na Rua Junqueiras ao lado do edifício Bauxita desde os anos de 1950 quando era do Ademar.
Ernani Augusto Pasculli, “Tuli”, (1943 – 2008) começou a trabalhar com seu pai em 1963 e permaneceu até o fechamento definitivo do salão, formou um salão em sua casa na Rua Barão do Campo Místico nº 298.
Continuando o oficio da família, Januário Sobrinho casou com Aída e tiveram dois filhos: Avilmar Pasculli “Mala”, nascido em 1952 iniciou na profissão de cabeleireiro em 1972 na Vila Mazzei, Zona Norte de SP. É um dos pioneiros a lançar o corte Pigmaleão, contemporâneo às técnicas de aditamentos de salão unissex que surgiram na profissão a partir da década de 1970, para fazer o penteado com escova e secador até o desuso do tradicional bobes. Em 1997 veio para Poços e trabalha atualmente no salão do “Tuli”.
Sua irmã Marcelene nascida em 1960 também aprendeu a profissão, porém exerce apenas como hobby.
Ernani Augusto casou com Silvia e tiveram dois filhos: Clayton e Ernani Filho. Ernani Pasculli Filho, “Melão”, nascido em 1976, começou a aprender a profissão em agosto de 1990 com o pai e trabalha atualmente no salão da Rua Barão do Campo Místico, nº 298.
Além de outros parentescos na profissão: O avô paterno da Silvia, Pedro de Melo Braga (1888-1966), nascido em São Gonçalo de Sapucaí, Minas Gerais, veio para Poços de Caldas em 1945. Seu salão era na Rua Assis Figueiredo, no local atual açougue Constância; E o primo Álvaro Luís Incrocci (1950 – 2007) trabalhou no salão do “Tuli” depois formou um salão em sua casa na Rua Major Luís José Dias, nº 168 Bairro da Vila Cruz onde trabalhou até falecer em 2007. O salão do “Tuli” recebeu o nome de Salão Primus, devido aos barbeiros primos da família que trabalharam lá.
É importante destacar que o Giacomo não foi o primeiro barbeiro de Poços, pois incluso no processo imigratório dos europeus que chegaram em Poços entre o final do século XIX e início do século XX, já havia outros barbeiros na cidade. Assim Mário Mourão descreve sendo o primeiro:
“O Avon era um francês velho, que chegou com reumatismo, sarou como tantos outros e resolveu ir ficando por aqui. Era barbeiro e negociante ambulante. Foi ele quem ensinou o Henrique Goffi e o José Rivas a escanhoar a cara do próximo”.[2]
O italiano Goffi chegou em Poços em 1892, ele é considerado o primeiro barbeiro de Poços a se estabelecer em salão com destino próprio de barbearia. Num outro livro sobre a história da cidade de Poços, Mário Seguso descreve:
“Durante o dia, Alfonso saía algumas vezes de sua lojinha para se revigorar com alguns goles de cachaça que também o esquentava, principalmente no inverno quando o frio lhe endurecia os dedos, justos aqueles que deveriam segurar as tachinhas. Ia também dar uma espiada na barbearia dos Pasculli para trocar com eles algumas palavras, mas vindo embora sem parar se por acaso enxergava dentro do estabelecimento, sentado na poltrona, uma das tantas personagens que regiam a orquestra político econômico local e social da cidade, como o Barão do Campo Místico, o coronel Agostinho, ou o Major Cobra, com os quais não se simpatizava. Aliás, ele pertencia à facção política contrária sendo um grande admirador do Dr. David Ottoni. Os Pasculli estavam sempre a parte de todos os últimos acontecimentos importantes ocorridos, ocorrendo ou que estavam para ocorrer, vindo a conhecer todas as notícias, entre uma pincelada de sabão e uma passada de navalha, enquanto os ilustres clientes conversavam. Alfonso pertencia à Societá Stella d’Itália”[3].
Subindo a Rua Assis Figueiredo do lado esquerdo de esquina com a Rua Expedicionários, funcionava uma escola de ensino primário na sociedade italiana onde negros e brancos estudavam juntos, quer dizer, a convivência entre as crianças já era preparada para acostumarem com as diferenças étnicas. Sem contar que a casa estava situada num local próximo aos bairros dos negros entre a Cascatinha e o bairro do Vai e Volta atual Rua Barão do Campo Místico.
[1] Diário de Poços de Caldas.
[2] Mário Mourão. Poços de Caldas Síntese Histórico Social.
[3] Mário Seguso. Os admiráveis italianos de Poços de Caldas.

Um comentário:

  1. Olá, muito obrigada pelo registro, Sou neta da Joana Pasculli, gostaria de entrar em contato com vocês, pode deixar algum telefone e/ou email? Obrigada, o meu é martazimp@gmail.com

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