segunda-feira, 16 de março de 2009

1 - O processo imigratório na história do Brasil entre o final do século XIX e início do século XX.

Economia e Cultura estão sempre juntas sendo que a cisão das duas serve para distinguir as atividades, como que Cultura é o costume de um povo: Trabalho, comida, vestimenta, religião, música, livros, etc, A Economia São as formas de moeda através das especulações: financeira, imobiliária, do trabalho, dos recursos naturais, e dos sentimentos da vida, etc. No entanto, economia é cultura e cultura é economia, por exemplo, quando que um determinado tipo de trabalho é um tradicional costume que serve para gerar comida, aí a economia anda na frente, pois ela busca recursos para gerar comida e manutenção de sustento para o povo. Nem só de pão vive o ser humano, porém, quando a barriga doe não há religião nem entretenimento que alivia a dor, por isso um dos motivos das guerras acontecidas na história da humanidade é a falta de espaço não só o físico, mas também o financeiro para o cultivo do trabalho que gera comida para a grande maioria do povo. Por isso a economia anda na frente como guia de todos os padrões sociais, pois quando um determinado povo tem o poder econômico e bélico, este povo impõe suas formas de cultura sobre outro povo com o objetivo de escravizá-lo e extrair de seu território os recursos naturais.
Pensando em trabalho é interessante observar as profissões, e nelas como base para a formação e o funcionamento da atual sociedade a qual vivemos. Vivemos numa sociedade econômica industrial capitalista em que o excedente, o desperdício e a crise financeira são realizações de sustentação para esse tipo de economia, esse tipo de sociedade nasce na Europa mais especificamente na Inglaterra por volta dos anos de 1750 e logo em seguida fortalece nos E.U.A., como a Europa detêm o poder bélico e financeiro ela dita todas as normas de Cultura Ocidental e tão logo esse tipo de poder se estende também para os E.U.A.. Os acontecimentos que o mundo estava passando em todos os complexos: sócio-político e econômico depois da instalação da indústria junto às teorias dos cientistas, inventores, filósofos e políticos entre todas as áreas de estudos, o fortalecimento dessa sociedade foi se adequando.
Próximo aos anos entre 1850 a 1930, mesmo que já havia uma camada de pessoas brancas residentes no Brasil, neste período foi instalada na política brasileira uma lei de interesse para atrair imigrantes brancos, a fim de povoar o país para que pudesse haver casamentos entre os novos habitantes brasileiros (imigrantes brancos), mais a população negra brasileira que já estava no país, o interesse dessa política era de cultivar a miscigenação para embranquecer a população brasileira num futuro próximo, e que os imigrantes pudessem trazer para o país suas culturas[1].
Segundo os registros oficiais do Brasil, fica evidente o processo imigratório em nosso país com a chegada de estrangeiros em números oscilantes, em determinadas décadas, para determinadas regiões brasileiras, e de determinadas nacionalidades diferentes, por volta de 1850 e se intensificando a partir de 1880 até 1930. Com os efeitos da segunda guerra mundial, esse processo se estendeu até 1950 já em menos números[2]. Os imigrantes se espalharam pelo país, porém o grande número de colônias, bairros e até cidades se formaram nas regiões sul e sudeste do Brasil, com isso a descendência do povo brasileiro resulta nos dias atuais de duas ou mais etnias diferentes.
A formação da cidade de Poços de Caldas está nesse contexto histórico, pois a data de instituição da cidade é em novembro de 1872, o processo imigratório e mais a elevada camada de famílias negras que já viviam aqui, e outras famílias recém saídas da lavoura de cidades e fazendas vizinhas de Poços de Caldas, pois vinham buscar vida nova ao crescimento da cidade que estava formando, entretanto, a camada de italianos é bem elevada.
A nível municipal, restringindo o assunto sobre profissão, e mais ainda à arte capilar, (profissão de barbeiro) é importante destacar um ponto forte que está claro nessa profissão na história de Poços de Caldas, a influência dos imigrantes italianos nas barbearias[3]. Alguns nomes como:
Ângelo Moretto, Antonio e Giacomo Pasculli, Antonio Virgas & Cia, Carlos Eurico, Fausto Venafro, Irmãos Borguetti, José e Giuseppe Hipólito, Julio Del Sarti & Irmão, Pietro Del Sarto, Raffaele Sarti, Pantaleão Stanziola, Vicente Gallize, Felice Galeazzi, de todos o único da época que não leva nome italiano é Joaquim Campos.
O objetivo de atrair os imigrantes seria um povo cuja cultura se assemelhasse com a cultura do povo negro existente no território brasileiro, embora o termo identidade nacional ainda estava nascendo com as leis outorgadas no decorrer do século XIX desde a vinda da família Real com Dom João VI em 1808, a criação do Senado e a independência do Brasil, depois a lei do Sexagenário em 1865 que garantia aos escravos acima dos 60 anos de idade a alforria, a lei do Ventre Livre em 1871 que garantia aos filhos de escravos nascidos no Brasil nascerem livres, e a lei da abolição em 13/05/1888. No ano seguinte a Proclamação da República em que a preocupação maior dos governantes era de unificar as províncias em uma só federação, antes que ocorressem as independências de cada província quando eram ameaçadores e reais os movimentos separatistas naquele período de Brasil colônia.
Então, era necessário criar o conceito de identidade nacional, dar nome e título de cidadão ao povo aglomerado nesse território justificando junto com nome de país Brasil. Devido o racismo não seria dado o título de brasileiro somente aos negros, com chances de ocuparem os espaços como classe dominante em todas as esferas políticas num futuro próximo, portanto, era preciso atrair brancos com culturas apropriadas ao costume mais parecido com os negros, tanto na zona rural que era enorme, quanto na zona urbana ainda menor de um país que estava nascendo, nem chineses nem outros brancos europeus assemelhassem tanto com a cultura afro-brasileira quanto os italianos.
Final do século XIX as famílias italianas viviam em condições de miséria, fome, falta de trabalho e ameaçadas de morte sobre uma terra européia esfacelada em crise e próspera de duas guerras mundiais, a semelhança do italiano com o negro brasileiro é muito nítida na luta pela sobrevivência num costume prático e natural, que é a troca de favor para saciar uma das necessidades básica que é a Fome. Por exemplo, trocar 1 maço de couve, cebolinha, 3 pés de alface plantado na horta de casa por meio quilo de milho para tratar das galinhas, ou ovos, ou pés de porco, seja da roça para o comércio numa cidade interiorana, seja no contato entre os comerciantes do dia-a-dia que necessitam se comunicar e trocar mercadorias, e ou, mão de obras por dívidas entremeadas de dinheiro e favores do cotidiano, além do convívio nas cidades grandes em cortiços.
Enfim, a coesão entre o negro brasileiro e o italiano é semelhante ao convívio entre dois irmãos que brigam a vida toda, mas estão sempre juntos numa eterna união pelo contato do ódio e do amor, mesmo que haja o existente racismo entre os povos, porém o racismo não alcança o convívio do cotidiano dessa união e a miscigenação amorosa.
Há inúmeras citações de trocas de favores do cotidiano, as quais as relações que convivemos diariamente são chamadas de micro. Das relações macro que estendem a nível nacional, é muito peculiar à cultura religiosa européia dominante judaico cristã num entrelaçamento com a cultura religiosa africana, e os italianos em geral ou adoram todos os santos, ou, por mais ateus e céticos que um ou outro seja, respeitam não pelo sentimento de medo, mas pelo sentimento emotivo. O povo italiano proveniente de uma cultura religiosa católica, se “deu bem” num país tão católico formado por negros descendentes da religião africana, centro espírita, que veneram através de um costume forçado ao longo dos séculos de escravidão os santos da igreja católica.
Além da religião também outra cultura fortíssima como o futebol, desde quando foi criada essa modalidade esportiva e logo trazida para o Brasil rapidamente foi o esporte número 1 no país, embora já foi esporte para a elite e negros não podiam jogar futebol, quando começaram a praticar foi o mesmo que na música já nasceram professores. Dentre a lista dos países mais populosos do mundo o Brasil é o país que sempre praticou futebol, e os países que sempre praticaram futebol têm a população do tamanho de um estado brasileiro, quer dizer, nem se compara a quantidade de jogadores brasileiros inscritos nas ligas de futebol amador e profissional, com as ligas de outros países tradicionais na prática de futebol. O acasalamento foi perfeito do italiano apaixonado por futebol com a peculiaridade do negro brasileiro para a habilidade futebolística.
Quando esse território estava se formando como país para ter a identidade nacional brasileira, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, a classe dominante desejava formar um povo miscigenado e embranquecido nas próximas décadas, também desejavam naquela época ter um povo branco trabalhando e servindo-lhes nos mais requintados teatros e hotéis, e toda a formação estratificada da nova sociedade brasileira até na mais baixa camada social. O italiano estava propício a esse costume, porque ele era branco, pobre com necessidade de trabalhar possuidor de um conhecimento da mão de obra técnica que são as profissões liberais, principalmente porque somavam para o crescimento e a sustentação da economia capitalista numa sociedade industrial recém-nascida da época para as condições ideais de formar a classe média. Aqueles italianos um pouco mais abonados investiram em comércios e indústrias, e aqueles italianos sem dinheiro e sem profissão foram ocupar os espaços na roça reforçando mais ainda o crescimento da economia capitalista que cresce com os lucros, ou seja, mão de obra assalariada recebe salário para comprar os produtos expostos no mercado, e não a mão de obra escrava que trabalha e não tem salário para comprar mercadorias. Além de trazer suas culturas o imigrante não vinha sozinho, ele trouxe consigo sua família reforçando o conceito da família núcleo: Papai, mamãe e filho, totalmente próprio de uma instituição básica para os moldes da sociedade industrial capitalista da época, dentro dos padrões da moral para a formação do caráter do indivíduo. Mas, não se deve considerar a exclusão e a marginalização sobre os negros culpando os italianos, porque essa classe de branco tanto está no mesmo barco quanto os negros e foram usados perante suas necessidades de sobrevivência, para ocupar os espaços como escravos trabalhadores da sociedade econômica industrial política capitalista.
Os imigrantes estabeleceram no sul e sudeste do Brasil devido a temperatura climática ser semelhante à Europa, a maioria sonhava ajuntar um bom pecúlio relativo ao seu sonho pessoal e voltar para Itália, mas no fundo todos sabiam que realmente era impossível voltar para uma terra flagelada num caldeirão fervendo para as iminentes 2 grandes guerras.
[1] Caio Prado Júnior. Formação do Brasil Contemporâneo.
[2] Warren Dean. Industrialização de São Paulo ( 1880 – 1945 ).
[3] Outros Lançamentos dos Impostos de Indústrias e Profissões, Vida Social.

2 comentários:

  1. Fala Hernani bacana a iniciativa do blog.

    depois você dá uma olhada nesse link é engraçado:

    http://www.omaiorbarbeirodobrasil.com.br/index.jsp#/home

    abraços
    Tauam

    ResponderExcluir
  2. Hernani,
    Parabéns pelo blog, vários "contos" que já escutei tantas vezes mas mesmo assim é um prazer relembrar novamente.
    Abraço
    Carlos Eduardo e família !

    ResponderExcluir